Os dias estão cada vez mais frios, mas não é Inverno. O primeiro dia de Dezembro está aí a chegar, mas não é "o" 1º de Dezembro. O festival da OPUM DEI este ano é a 6 de Dezembro, num domingo, culpa da AAUM; este ano inicia-se à tarde, culpa das tunas que têm aparecido como cogumelos e impossibilitam que as atuações sejam todas à noite. Quantas versões diferentes da "Menina Que Estás à Janela" é que é sustentável ouvir antes dos pais dos meninos se começarem a suicidar na plateia? Pela altura em que se ouvir o último "Vai Tuna!" no Parque de Exposições, já as cadeiras do público estarão todas manchadas com os miolos e o sangue da audiência. Falam em ser exigente com o público... Enfim, em mais um texto da rubrica “O Profeta Explica”, hoje abordamos um evento que vai, esse sim, acontecer dia 1: as eleições académicas.
Sabemos que as eleições estão a chegar quando vemos propaganda nos campi, quando os elementos das listas mudam a sua foto de perfil para imagens de si com sorrisos no rosto e molduras estilizadas, quando de repente existem inúmeras preocupações e assuntos a debater, que ninguém quis saber durante o resto do ano, mas que agora merecem toda a atenção. Pormenores aparentemente aleatórios também anunciam a aproximação de tal evento: as baguetes dos bares são servidas com mais recheio, as portas da BGUM finalmente funcionam em simultâneo e o papel higiénico das casas-de-banho é mais suave. Os estudantes são convidados a expressarem o seu apoio, depositando um papel numa caixa, a alguém que se tenha proposto a tomar as rédeas da Associação e apontar um rumo para o próximo ano. Chama-se a isto democracia. Contudo, este ano, ao contrário dos últimos, só existe um candidato – não há alternativa. Para compreender este acto de eleição, vamos retroceder no tempo.
A Associação Académica nasceu para, entre outras coisas, “defender os interesses dos estudantes”, afirma-se no texto de apresentação que consta no seu site, onde também se refere que “os primeiros dinheiros da Associação Académica foram conseguidos através de um peditório”. Até aqui, muito a Associação e a Ordem têm em comum. Afinal, ambos nasceram com o mesmo objectivo e fazem peditórios (este ano, por exemplo, fizemos para os sírios). Mas que interesses são esses que a Associação defende? Passados quase quarenta anos desde a sua fundação, parece-nos que não serão certamente os mesmos.
A Associação Académica nasceu para, entre outras coisas, “defender os interesses dos estudantes”, afirma-se no texto de apresentação que consta no seu site, onde também se refere que “os primeiros dinheiros da Associação Académica foram conseguidos através de um peditório”. Até aqui, muito a Associação e a Ordem têm em comum. Afinal, ambos nasceram com o mesmo objectivo e fazem peditórios (este ano, por exemplo, fizemos para os sírios). Mas que interesses são esses que a Associação defende? Passados quase quarenta anos desde a sua fundação, parece-nos que não serão certamente os mesmos.
O panorama fortemente contestatário do pós-25 de Abril foi substituído por políticas de austeridade e medo, que ameaçam o Ensino Superior e se traduz em desinvestimento do Estado neste sector. Um exemplo claro da desresponsabilização do Estado é a passagem da Universidade do Minho a Fundação, algo pelo qual a reitoria lutava já há vários anos e que aconteceu sem contestação por parte do organismo que se diz defensor dos estudantes. Esta alteração permite que certas empresas possam participar na decisão dos rumos desta nossa Academia, de onde tem de investir e desinvestir, ou seja, na prática, dos moldes e das áreas do conhecimento científico que a Universidade produz. Como pode a Universidade garantir que as decisões tomadas no seu seio têm como objectivo máximo oferecer uma formação de qualidade a todos os estudantes, quando entidades cujo propósito é a obtenção de lucro têm uma palavra a dizer nessas mesmas decisões? Serão os interesses destas empresas superiores aos dos estudantes?
Na visão da Associação Académica, talvez os interesses dos estudantes não sejam a diminuição das propinas, mas sim que a Associação seja conivente com o Rei Tó e os sucessivos governos, que contrariam a Constituição da República Portuguesa, onde se afirma ser responsabilidade do Estado “estabelecer progressivamente a gratuidade de todos os graus de ensino”. Talvez não seja do interesse dos estudantes mais bolsas e apoio social, mas sim que não faltem as grandes festividades, que funcionam muito bem como o equivalente académico de “Fátima e futebol”, e onde ainda nos dão a oportunidade de sermos explorados sem misericórdia com preços exorbitantes. Talvez não seja do interesse dos estudantes que a Associação se preocupe em incentivá-los a serem proactivos e envolverem-se nas suas actividades, mas sim que os dirigentes académicos possam tranquilamente ter almoços e viagens desnecessariamente prolongadas pelo estrangeiro à sua pala. Em verdade te dizemos, não se sabe realmente quais são os interesses dos estudantes, pois o panorama é de conformismo e apatia, votam todos na lista A de Abstenção, o que é conveniente a uma Associação que se sente bem é na cozinha a cuidar dos tachos.
A magia das eleições está na oportunidade que te é concedida de esquecer tudo o que está para trás e acreditar que as mesmas pessoas terão comportamentos diferentes; está na fé que o Rei Tó tem e que, apesar de gordo, o faz sonhar alto e ser carreirista; está no carinho com que te deves recordar da atitude solidária que a Associação teve ao partilhar um almoço com um Primeiro-Ministro que nos escarrou nos diplomas e nos mandou emigrar; está no silêncio mágico da Associação perante a sodomia de que é vítima o Ensino Superior. Inspira fundo, sorri e, se este ano não tiveste direito a bolsa, pensa que talvez te caia alguma coisa na meia de Natal.
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