01 fevereiro 2016

Este não é um comentário político

Há um vazio no prime-time nacional e isso deixa-me triste.

Acordo à segunda-feira a pensar naquele livro que não vou ler apenas porque o Doutor mo recomendou na noite anterior. Aquele volume excepcional sobre a milenar história do agripino e da sua importância na economia local da Beira Interior. É um facto que de qualquer forma nunca iria ler esse livro, mas choro por saber que não mo tentou impingir enquanto esperava calmamente por um novo episódio da Quinta. Pesa-me de sobremaneira que, depois de tanto se ter esforçado para não ler todos aqueles livros, não tenha um espaço onde possa dizer: “Olhem para todos estes livros que eu recomendo, não pela qualidade do seu conteúdo, mas pela quantidade da bonificação que eles me geram. Admirem-me pela quantidade de palavras que consigo parecer processar por minuto.”

Ah, Doutor! Qual rolha a sair numa banheira bem cheia, porque decidiu criar este vortex que remove a água quente e logo impedir-me de apreciar as bolhas daquele peidinho pelo qual esperei durante todo o domingo?

Bem sei que os galácticos pertencem ao universo e que aqueles minutos no serão eram diminutos para uma estrela de tal tamanho. Mas as pessoas precisam de si, dos seus livros, da sua aristocracia com aquele quorum brejeiro do povo que demonstra tanto quando opina sobre o orçamento de estado ou sobre o record mundial da maior omelete de enchidos de Ermesinde.

Hoje não vejo televisão ao Domingo. Hoje choro por aquilo que tive e que não mais irei ter. Pelo menos até se decidir falar a nós, o seu povo, os seus portugueses. Ou até nos prendar com uma bela mensagem de Natal e Ano Novo. Serão com certeza momentos memoráveis.

Mas isso não chega. Quero que o Doutor me fale ao domingo. Ligue à sua amiga da televisão e diga-lhe que um Presidente tem que ser Presidente. Ou então peça ao Engenheiro o contacto do pessoal da Venezuela ou ligue para os lados de Alvalade. Se há gente que sabe dar tempo de antena a um presidente são eles. Pode dar aquela ideia de ditadura mas, no final, o Doutor pertence ao seu povo e o seu povo pertence-lhe a si, e ninguém tem o direito de separar o que a TVI uniu. E, além disso, o Doutor sabe que é fotogénico.

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