Na última quarta-feira houve festa. Drama, horror, berimbau e açafrão são tudo palavras que vêm no dicionário mas, agora que a poeira assentou, que o Estado já voltou ao bolso dos portugueses, que o novo governo perdeu a maioria, que a celulite está na vanguarda da fotogenia e que ir à falência é sair de bolsos cheios, nós, imbuídos pelo espírito natalício, partilhamos convosco mais uma história de alguém que na primeira pessoa vos conta que ser filho da pu#@ não é o mesmo que filha da putisse, pois, nas palavras de Profeta: nunca voltes ao sitio onde foste feliz, a não ser que esse sitio seja a Cairense.
Hoje, por fim, depois de tantas lágrimas e um coração moído, estrangulado e arrastado pela lama, deixo o meu testemunho. A outra cara do dito Profeta, ou melhor, a cara do Profeta na manhã seguinte à "festa".
Estando aqui há apenas uns meses, as minhas doutoras foram passando-me alguns ensinamentos que acharam úteis, ensinamentos que eu como caloira me esforço em desobedecer. Uma dessas lições que ouvi mas não respeitei foi a que me levou a escrever para o blogue. Palavras que desde então parecem ecoar na minha cabeça uma e outra vez, cada vez com mais sentido: “tem cuidado com os de roxo, não te aproximes deles, não lhe dês conversa…”.
Mas a verdade é que eles são loucos e a loucura parece atrair. Eu estava a respeitar o que me fora dito, mas por outro lado as minhas doutoras iam deixando a cara de nojo (que lhes é habitual) e iam começando a soltar-se e a derreter-se, quebrando todas as barreiras que elas tinham levantado. Após alguns copos diminutos de veneno o que antes eram muros agora eram pontes, tudo eram risinhos e encantos o que me levou a pensar “olha estas putas não nos querem a falar com eles mas elas vão todas contentes”.
Ora, já dizia a minha querida avó que o fruto proibido é o mais apetecido. Passei discretamente pelo meio delas como quem vai pedir ao balcão mais uma dose de elixir bocal e comecei a falar com um. Parecia engraçado, estranho, muito estranho mas engraçado. Chamei as minhas amigas e tiramos juntos uma foto (sim, porque não ia tirar sozinha uma foto com um estranho de roxo, até porque as minhas doutoras matavam-me!). Pensei para mim “está tudo controlado”, mas não estava. O “estranho” chama um amigo, talvez ainda mais estranho mas com um charme como nunca senti, parecia ter uma aura que o fazia brilhar mais que todos os outros. Olhou para mim sorriu e disse: “sabes porque nos chamam profetas?”. Eu, intrigada, respondi que não, ao que ele respondeu tirando os óculos de sol “sabes em que cama vou dormir hoje? Na TUA!”. Eu ri, achei até piada ao atrevimento dele mas afirmei veemente que não seria possível, que não estava interessada, ele riu e foi-se embora.
Foi a minha primeira mentira da noite, ele tinha razão e ambos sabíamos disso.
Depois já podem calcular o que aconteceu, procurei por ele a noite toda com o olhar como uma mosquito procura a luz, ele parecia não querer mais saber de mim. Obriguei as minhas amigas a aproximarem-se do grupo dos roxos e a falarem com ele. ERRO COLOSSAL!! Fiquei sem amigas, até as que diziam ter namorado deixaram de ter repentinamente e por uma noite eram livres. Estavam rodeadas por braços proféticos, por indivíduos estranhos e estupidamente bêbados. A verdade é que as invejei, queria estar como elas. Fiquei a olhar de fora e, como truque de magia, ele estava a fazer o mesmo, a observar os amigos dele com um sorriso no rosto enquanto mordia uma palhinha, sempre sem olhar para mim.
Em jeito de sedução, livrando-me de todas as amarras, comecei a dançar diante dele, da forma que pensara ser mais sensual, e pronto a coisa deu-se. Ele encostou o corpo dele ao meu e um arrepio contínuo correu o meu corpo nesse momento pensei para mim “cumpra-se a profecia”.
Tudo parecia ser magia, tudo parecia um mar de rosas, música celestial para os meus ouvidos, mas não era. No dia seguinte despediu-se de mim com um beijo seco, livre de paixão ou sentimento e senti-me como um objecto. Um brinquedo inerte nas mãos de alguém. Eu queria mais, queria repetir e sentir-me tua outra vez... Mas nunca mais deixaste.
“Foi bom em quanto durou”?? Foi, muito bom até. Mas não deves dar tudo de ti se não pensares em voltar onde fomos tão felizes. Já que não me respondes às mensagens como deve ser espero que por aqui eu me consiga fazer ouvir e consiga chegar ao teu coração.
O sonho, seja ele bom ou mau leva sempre a um acordar, menos para aquelas pessoas que acordam mortas. Sei que parece estranho, mas esta frase que tanto me fez rir no passado hoje cai em mim com um balde de água fria. Para ser sincera cada despertar sem ti, é mais uma manhã que acordo morta por dentro.
Sem comentários:
Enviar um comentário