Dia do Trabalhador: O Regresso dos que Nunca Foram
Costuma-se dizer que as crises são tempos de oportunidade, e se as cartas forem bem jogadas vai dar merda… para os trabalhadores, porque esta crise será apenas mais uma chance para algumas empresas. Numa altura em que os direitos dos trabalhadores estão cada vez mais protegidos, levanta-se a questão: fará sentido celebrar este dia? Os nossos protetores respondem a esta pergunta e, vão mais além, quando tentam enganar os mais atentos. Usam a linguagem, mãe (re)educadora, para poder restringir ou condicionar o pensamento, com falsas premissas e falsas conclusões, levando a aceitar como positivas coisas que são eminentemente negativas. A velha expressão de Orwell - "guerra é paz, escravidão é liberdade, ignorância é força" - ilustra perfeitamente esse efeito. Mas talvez seja injusta esta análise. Que importam as palavras usadas?
Foquemos então no concreto: a nova medida do Governo, o lay-off simplificado. Um regime remodelado que permite suspender o contrato de trabalho ou reduzir o período normal laboral, com cortes salariais e apoios do Estado. Os 900 mil trabalhadores independentes ou por conta de outrem abrangidos pelo lay-off esperam o apoio financeiro do Estado, através das medidas de apoio ao emprego e às famílias. Para tristeza de muitos, aquilo que apresentaram como "apoio" é um mero atropelo das regras que já estavam mal estabelecidas.


![]() |
https://www.jornaldofundao.pt/economia/meia-centena-de-trabalhadores-despedidos-nas-confecoes-trindade/?fbclid=IwAR25GLjLoQ27fIsDfiKJ7XkrABDMweu57LwIRN0-9XDNtKboqwayLtQdrS4 |
Tendo em conta esta nova linguagem de trabalho, que será sinónimo de mais desemprego, fica a dúvida se estas "medidas temporárias" significarão, de facto, "medidas complementares" com caráter definitivo.É duvidoso o uso destas medidas quando contrapomos com o nosso dicionário e verificamos que, de maneira subtil, o despedimento ganhou o significado de “lay-off ou dispensa”, a maior parte dos trabalhadores chamam-se agora de “colaboradores ou estagiários” e, o mais escandaloso, o despedimento coletivo que na verdade se apelida agora de “downsizing”. No fundo, é uma maneira de mascarar as coisas e tirar-lhes a carga negativa. Se a História é feita de ciclos prevê-se que para o ano teremos ainda mais razões para festejar o Dia do Trabalhador neste mundo saturado de informação e de contra-informação. Se não for traduzida esta linguagem, a verdade acabará desvanecida e, em breve, para a generalidade das pessoas ficará apenas a versão oficial, ou seja, uma mentira mil vezes repetida, sem qualquer direito para os trabalhadores no dia em que se festejam tais “feitos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário